Trechos do romance Navios Iluminados (1937), de Ranulfo Prata, selecionados e narrados por Alessandro Atanes para a 10ª edição do Festival Tarrafa Literária, realizada em setembro de 2018 em Santos, em memória do autor.
O primeiro emprego do protagonista José Severino de Jesus na Companhia Docas de Santos é como ferrugeiro nas oficinas da Mortona, cuja atividade consistia em manejar um martelo hidráulico contras as chapas de aço dos navios para rapar-lhes a ferrugem.
No primeiro dia, ele é orientado a marcar corretamente o controle do relógio de ponto. Conforme as sereias — as sirenes das Docas —, o trabalho nas oficinas ia das 7 às 10 horas, almoço, novo turno das 11h30 às 14 horas, 15 minutos para o café, e depois outro período até 16h30. Sobre a atividade, ouve de mestre Guimarães, que apontava para outros três rapazes com martelos de ar comprimido: “Vá fazer o que eles estão fazendo. Pegue naquele martelo; ferrugueiro não tem o que aprender”. Ao firmar o martelo no casco do navio em manutenção, a “vibração e o barulho aumentaram danadamente” e as cascas de ferrugem lhe entravam pelos olhos e pela boca.
Ao checar a noite, porém, estava satisfeito, havia alcançado seu objetivo, obter um trabalho no porto de Santos: “Quando se deitou nessa noite, Severino estava de corpo moído. Todos os músculos lhe doíam, como se estivesse sido pisado a patas de cavalo. Mas sentia-se feliz”.
O áudio narra o acidente com Severino que ocorre na segunda semana de trabalho e chega até o final do mês, com o primeiro salário na função e a decepção com o ganho pouco em cidade grande, “com tanto gasto forçado”.
Estante
Ranulfo Prata. Navios Iluminados. Coleção Reserva Literária IV. Apresentação Marisa Midori Deacecto. Nota editorial José de Paula Ramos Jr e Hugo Otávio Cruz Reis. São Paulo: COM-ARTE, Editora da Universidade de São Paulo, 2015.
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